UM NATAL FELIZ

...a garota foi a primeira a acordar, no amanhecer cinzento do dia de Natal. Sabia que não havia meias penduradas na lareira, e, por um momento, sentiu-se tão desapontada quanto ficara muito tempo antes, quando sua meia caíra com o peso da grande quantidade de doces.

Então, lembrou-se da promessa do pai e, deslizando a mão por baixo do travesseiro, retirou um livrinho de capa vermelha. Ela o conhecia bem, pois continha a bela e antiga história da melhor vida que alguém já vivera, certamente um verdadeiro guia para qualquer peregrino que empreendesse uma longa jornada.

Seu pai a acordou com um "Feliz Natal" e incentivou-a a ver o que havia sob o travesseiro. Apareceu um livrinho verde, com a mesma figura no lado de dentro e algumas palavras escritas pelo pai, o que tornava o presente muito precioso aos olhos das filhas.

Quando suas irmãs acordaram, também acharam seus livrinhos, um cinzento, o outro azul, e todas sentaram-se, olhando para eles e conversando, enquanto o horizonte se tornava rosado com o raiar do dia.

A despeito de suas pequenas vaidades, o pai tinha natureza meiga e piedosa, com a qual inconscientemente influenciava as irmãs, mas a garota mais do que as outras, que o amava muito e lhe obedecia porque ele dava conselhos com grande gentileza.

_ Meninas, papai quer que leiamos, que amemos esses livrinhos e que sigamos seus conselhos - ele disse, compenetrado, olhando para a cabeça curvada a seu lado e para as outras duas, cobertas por gorros de dormir.

Elas faziam tudo isso religiosamente, mas depois que papai fora embora, e essa crise passou a nos afligir, negligenciamos muitas coisas. Voçês façam o que quiserem, mas eu manterei meu livrinho nesta mesa e lerei um pouco todas as manhãs, logo que despertar. Sei que isso me fará bem e me ajudará o dia todo.

Então, abriu o livro e começou a ler. A menina o abraçou e, encostando a face na dele, leu também, com uma expressão de tranquilidade raramente vista em seu rosto inquieto.

Após alguns minutos de leitura, a garota ficou envergonhada de seu presente. Depois de ler e conversar, pela manhã, sobre o que é ser uma boa menina. Correu, então, até a loja da esquina e o trocou. Ela, agora, estava muito contente, porque o seu presente era o mais bonito de todos!

A porta da rua bateu novamente, e as meninas empurraram a cesta para baixo do sofá e correram até a mesa arrumada para o café da manhã.

_ Feliz Natal, papai! - as quatro gritaram em coro. - Estamos agradecidas pelos livros. Já lemos um pouco e pretendemos ler todos os dias.

_ Feliz Natal, filhinhas! Estou contente porque já começaram a ler e espero que continuem. Mas quero lhes dizer uma coisa, antes de me sentar. Não muito longe daqui, há uma mulher com um bebê recém-nascido e mais seis crianças, todos amontoados numa cama só, para não congelarem, porque não têm com que fazer fogo. Também não têm o que comer, e o menino mais velho veio me dizer que estavam passando fome e frio. Minhas meninas, vocês dariam a eles o seu café da manhã como presente de Natal?

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